OBRIGADO PELA VISITA

OS RUINS NÃO SÃO BONS PORQUE OS BONS NÃO SÃO MELHORES

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A PARTE DE CADA UM


Sempre que ocorre um crime, seja contra o patrimônio ou contra a vida, o primeiro sentimento que irrompe em boa parte da população brasileira, que clama por mais violência para combater a violência, é o da vingança. Setores mais conservadores, à direita, pedem mais polícia, enquanto a esquerda fala em mais educação e distribuição de renda. Se é verdade que a educação e a economia podem ser aliadas na luta contra a violência, parece pouco provável, porém, que floresça uma nova sociedade apenas porque as pessoas têm mais dinheiro e conhecimento da norma padrão da língua. Se isso fosse verdade, não haveria tantos crimes cometidos por pessoas de fala muito educada e renda per capita muito acima da média. A política de segurança pública no país se limita, na maioria dos casos, a promover ações que têm por objetivo calar, sufocar, amedrontar e até mesmo eliminar aqueles que reagem com violência contra a violência de que são vítimas. Uma resposta seletiva, preconceituosa e discriminatória, que só faz aumentar a corrupção e a insegurança. O modelo de escola que temos pouco ajuda a transformar a realidade. É resultado da ação de políticas que são definidas por boa parte dos mesmos setores que não se interessam em dividir a renda e o conhecimento entre a população brasileira. E os professores e alunos que ali estão não raro se comportam e defendem pontos de vista muito parecidos com aqueles que se encontram fora dos muros da escola. A disputa de cargos, os interesses políticos, a falta de condições mínimas de trabalho, estudantes que refletem a violência de seus lares e dos locais onde vivem, pais que não impõem limites a seus filhos, tudo contribui para o fracasso de uma ação que busca na educação respostas aos anseios de justiça social, paz e harmonia. Mas como a escola pode responder a essa expectativa se é também violentada diariamente? Se em seu restrito espaço também se reproduz a violência, a ganância, a individualidade, o consumismo, a falta de limites e o estímulo para a busca desenfreada de prazer e poder a qualquer custo? Nada mais falso do que atribuir a corrupção aos políticos brasileiros, como se fossem uma casta de privilegiados que não tivessem ramificações em toda a sociedade, em cada esquina do país. Como se esses políticos não fossem também empresários, médicos, advogados, engenheiros, jornalistas, economistas e toda a lista de profissões em maior destaque no Brasil. Como se pudessem chegar ao poder sem o apoio de tantos iguais em suas profissões ou em suas alianças com outros segmentos e até mais diretamente com cada eleitor, isoladamente. A corrupção, a violência e outras mazelas do cotidiano formam uma teia pacientemente tecida com a nossa adesão (por mais eventual que seja) ou omissão. Quanto mais ela se estende, mais nos apanha em nosso dia a dia. A corrupção não pode ser vista como um fenômeno isolado, pertencente a uma camada social, ou a um determinado partido, ou a um grupo deles, ou a um governo. Ou ainda como um desvio moral de determinados cidadãos. É algo mais intrínseco à própria formação da sociedade, à própria estrutura política, econômica e social do país. Mas que não se busque no passado, nas etnias, a explicação para as infâmias que hoje proliferam. Neste caldo de cultura, em que, de alguma forma, somos um pouco vítimas e cúmplices, a justiça e a ética se alimentarão da vontade de subverter o cotidiano, de lutar contra as nossas fraquezas, de dizer "não” quando é tão mais cômodo e prazeroso dizer "sim”. De pequenos gestos que já foram ensinados outrora em boa parte das famílias, noções de honra e dignidade, senso de justiça, recusa ao que não nos pertence ou é imerecido. Dessa opção por não trilhar o caminho mais fácil, começam as possibilidades de mudança. De ter a perspicácia de identificar o inimigo, às vezes tão sedutor, como os meios de comunicação e a publicidade, fortes protagonistas na criação de identidades, na construção de valores. Como pode a mídia –sem um mínimo de hipocrisia– dizer que não é uma das principais responsáveis pelo modelo de sociedade que hoje temos? Mídia, igreja, escola –para ficar em apenas três importantes atores sociais– são essencialmente formadores do caráter da nação. Juntamente com a elite econômica, intelectual, com o Judiciário e os partidos políticos. Esqueci de alguém? Pode ser, estão todos aí, basta procurá-los, mas atenção: eles são bastante convincentes, dizem o oposto do que costumeiramente praticam. Verdade seja dita: eles são nós! Nenhum deles sobrevive sem a nossa renovada participação e adesão às causas que professam. Quando dizemos que a violência e a corrupção chegaram a um patamar insustentável, resta saber se estamos prontos a repensar as nossas crenças, valores e atitudes, à direita e à esquerda, porque "isso que aí está” é muito parecido com o que nós somos. Ou contribuímos para que assim fosse. Por mais que tenhamos álibis quase perfeitos. Do tipo "eu não faço parte disso aí”. De alguma forma, ou porque não tivemos a lucidez de combater quem tínhamos que combater, ou apoiar quem deveríamos ter apoiado –porque era mais fácil nos isolarmos no egoísmo (às vezes) de nossas crenças políticas e ideológicas– somos parte do problema. Nossos menores gestos, nossos "jeitinhos”, nossa relativização das regras quando interessa, nossas justificativas pouco éticas quando os fins justificam os meios, quando é por uma boa causa, ou "é uma coisinha insignificante”, nossas escolhas, nossa voz fraca diante de tantos abusos contribuem para a formação de uma sociedade permissiva, excludente e preconceituosa. A solução começa por aceitar que não somos tão inocentes. COMO VOCÊ ESTA FAZENDO A PARTE QUE LHE CABE?
Celso Vicenzi = Jornalista

quarta-feira, 15 de junho de 2011

SINTOMAS DE UMA MORAL CORROMPIDA

Desde a metade do segundo milênio - a humanidade - fortemente alavancada pela descoberta da tecnologia, vem vivendo ao que se chama de era da prestação de serviço. Os instrumentais criados oferecem aos incluídos no mercado rapidez e conforto bem acima do necessário. No bojo do desenvolvimento o processo chamado de terceirização ganha cada vez mais corpo. Servir para ganhar vai colocando cada vez mais em perigo valores morais alicerçados no amor ao próximo, na solidariedade, na colaboração, na caridade, na gratuidade. Terceirizam-se praticamente tudo, até afeto e fé. Interesses egóicos, rasteiros, mediatos e passageiros colocam a convivência humana num território movediço com resultados imprevisíveis. Como diz Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa em Grande sertão – Veredas, viver é perigoso. Gestos e atitudes construídos ao longo da história vão sendo transformados em moeda de troca e perdendo valor a cada dia. Termos antes restritos à esfera do mundo dos negócios estão sendo vulgarmente usados a partir da educação familiar, passando pela religiosa, moldurando discursos melosos e vazios, recheados com palavras de dúbio sentido. Liberdade, libertação, democracia, livre arbítrio, fé, ou frases como meu querido, meu amor, meu bem, dentre outras, ganharam tons mercadológicos, quer em nível dos negócios, de prestigio, religioso ou de opinião pública. Erich Fromm afirma em “Análise do Homem” que somos um rebanho que acredita que o caminho que estamos seguindo deve ir dar em algum lugar já que todos o seguem. Para ele senso comum deveria na verdade chamar-se de insensatez comum, face os enormes estragos que provocam na cultura. Essa postura mecanicista desprovida de compromisso e carregada de interesses contribui para que o sonho de um mundo justo, igualitário e fraterno transforme-se em utopia. O favor, a solidariedade, a ajuda, a compaixão ao invés de contribuírem para que a convivência do homem/mulher seja cada vez mais fraterna, servem para aumentar a distância entre os ricos e a legião de miseráveis de que tudo necessitam. “O que ganho com isso” ou “quanto lhe devo” retrata bem essa doença de uma sociedade extremamente individualista, que vai aos trancos e barrancos incorporando hábitos que destroem valores construídos ao longo da história da humanidade. E o que se tem visto e feito para inverter essa lógica esta longe da solução. Ao invés de condutas éticas o que se vê são “esquemas” que revelam o rosto do “jeitinho” brasileiro de resolver as coisas. Difícil não encontrar setor que não existe a prática de um “esquema”. Para provocar um debate pergunto: você dá ou pede “caixinha”? Por quê?

terça-feira, 14 de junho de 2011

A MENTIRA NA HISTÓRIA

Estou a imaginar uma situação em que alguém fosse roubado ou assaltado e agredido. Teria, no entanto, a ajuda solidária dos amigos.  Denunciaria o agressor à justiça. E todos os que o ouvissem bem o  compreenderiam. Agora imagino que esse alguém  fosse roubado e depois acusado de ser o autor do roubo, punido, preso como criminoso sendo ele, na verdade, a vítima. Ou imagino uma situação em que ele pacificamente salvasse alguém de ser assassinado e por isso fosse punido como assassino.  Seria a lei aplicada às avessas, o absurdo. Seria a inversão da lógica, a reviravolta dos valores. Ou seria a aplicação de uma injusta lei, avessa à verdade e a justiça. Poderíamos encher muitas páginas com centenas de exemplos, todas com certa semelhança. Vamos lembrar apenas alguns. O primeiro que nos vem à mente encontramo-lo na Bíblia, no livro “Atos dos Apóstolos”. O texto é de caráter, sobretudo, teológico, mas nos revela ilustrativos fatos históricos.  Diz em seu capítulo 12, versos 1 a 3, que “O rei Herodes começou a maltratar alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago. Vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender também a Pedro”. E aí pensamos: Por que a tirania do rei agradava ao povo? Certamente houve um trabalho de difamação, de calúnias, com o espalhar de preconceitos facilmente assumidos por muitas pessoas pouco dadas à reflexão e à análise apurada dos fatos. É disso que se alimenta o populismo. Os primeiros cristãos foram muitas vezes vítimas desse tipo de absurdo. Documentos históricos falam de ocasiões em que a população, prejudicada por decisões erradas de governantes, foi levada a acreditar que a causa do problema era o fato de os cristãos terem ofendido os deuses. E é bem conhecido o episódio em que o imperador Nero manda incendiar a cidade de Roma e faz a culpa recair sobre os cristãos. Também a história da implantação do socialismo, inclusive o de caráter marxista-leninista, é povoada de mártires que passaram por semelhantes situações. O romance do realismo socialista de Máximo Gorki, intitulado “A Mãe” traz, em seu capítulo XV, representando diversos heróis e talvez o próprio autor, um personagem que é terrivelmente torturado diante do público a quem começou a pregar idéias revolucionárias. Conta o livro que pessoas dadas ao vinho comentavam o episódio à sua maneira, dizendo se tratar de um chefe de quadrilha terrorista que fazia muitas crueldades, entre elas a de roubar igrejas e ensinar a não acreditar em Deus.Livros sobre a história do Brasil, por exemplo, sobre a história do Quilombo dos Palmares também nos dão conta desse tipo de absurdos. “Palmares e o mundo do açúcar contrastavam-se sendo dois embriões de nações vizinhas e inimigas. Nos engenhos, com a servidão ao mercado externo, o cultivo da cana ocupava todas as terras e todos os braços e, por isso, até os proprietários se alimentavam mal. Os habitantes de Palmares plantavam de tudo; apareciam aos olhos dos inimigos como sendo mais fortes e contentes. Por volta do ano 1693, com a queda do preço do açúcar e a seca, em meio à escassez de alimentos, brancos magros e doentes viam negros quilombolas saudáveis e robustos.” A inveja era bem aproveitada. Homens a serviço do governo e dos senhores de engenho” faziam a população acreditar que a causa de seus males era o crescimento da pátria dos negros palmarinos.” Esvaziavam-se os presídios para que os presos, movidos pela promessa de recompensa, fossem atacar Palmares.  Os próprios comandantes eram exímios criminosos. Fernão Carrilho foi solto da prisão para comandar expedições contra o quilombo e, em 1677, voltando de um combate em que conseguiu matar muitos negros, houve missa comemorativa na igreja de Porto Calvo. Domingos Jorge Velho, na lista de suas exigências para destruir Palmares,  incluía a anistia para todos os seus crimes. É necessário um pouco de pesquisa e exercício de reflexão para se entender quais os bandidos que passaram para a história como heróis tornando-se nomes de ruas, praças e escolas e quais os heróis que foram pintados como bandidos. Podemos lembrar ainda que, quando Canudos foi destruída e todos os seus habitantes barbaramente assassinados, houve festa em Fortaleza com muita gente comemorando a vitória da República contra o que falsamente chamavam de “reduto monarquista”. Bem dizia o poeta Affonso de Santana em sua “Implosão da Mentira”:

“Mentiram-me. Mentiram-me ontem
E hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
Que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impunemente.
Não mentem tristes
Alegremente mentem.
Mentem tão nacionalmente
Que acham que mentindo história afora
Vão enganar a morte eternamente
Mentem no passado.
No presente passam a mentira a limpo
E no futuro mentem novamente”.

Dizem que Adolf Hitler utilizou o método de repetir muitas vezes a mentira para transformá-la em verdade.  No Brasil, nas últimas décadas, se tem utilizado largamente a grande imprensa para a massificação de mentiras. Muito sofreram os militantes do Partido dos Trabalhadores, sobretudo na década de 1980, por causa de mentiras difundidas pela televisão, rádios e jornais.  No início dessa década, ao manifestarmos apoio ou simpatia a esse partido éramos identificados como terroristas e não raro agredidos, por vezes até fisicamente. Muito sofreram lideranças sindicais, sobretudo em períodos de greve por causa de mentiras ou omissão de verdades nos meios de comunicação de massa. Muito tem sofrido os que trabalham com o que se chama “direitos humanos” por terem sido identificados como “defensores do crime”, como “promotores da impunidade” e outras mentiras. Conta alguém que foi o próprio secretário da Justiça na gestão do governador Montoro, José Carlos Dias que, em certa ocasião, ao pedir a um soldado que parasse de bater num jovem infrator, por pouco não foi linchado. Foi  o mesmo que tentou instituir nos presídios a “visita íntima” com o intuito de diminuir a desumanização e a promiscuidade nesses locais e sofreu a oposição de jornalistas policiais que tinham muito espaço no rádio para dizer mentiras. Por uma infinidade de exemplos podemos ver que, a respeito dos melhores amigos da libertadora verdade se falou muitas mentiras. A mentira continua rondando descaradamente por aí, confiando muito na miséria, na falta de estudo da população, na demagogia de comunicadores de televisão, que se fartam de receber aplausos. E o atual poder Legislativo vem demonstrando que não é tão inimigo da mentira ou muito amigo da verdade. Prefere ser amigo do pai da mentira, o dinheiro, que é a fonte de todos os males.
Geraldo Domezi
Nobel em Inquietude

quarta-feira, 8 de junho de 2011

UM OUTRO CRISTIANISMO É POSSÍVEL...

Existem, infelizmente, dois grandes discursos na Igreja nessa atual conjuntura, duas formas distintas de viver a eclesialidade nos dias atuais. O primeiro, mais em voga principalmente na mídia e nas grandes concentrações da fé, traz uma abordagem conservadora e tradicionalista, geralmente imbuída de muito emocionalismo e devocionismo. Jesus Cristo, a partir dessa vertente, é o Senhor dos grandes milagres e dos discursos moralistas, desvinculados da vida real e das condições históricas de seu povo. Nessa perspectiva, surgem quase sempre cristãos infantilizados, despreparados para enfrentar os desafios deste mundo caótico e desprovidos de identidade eclesial. Quando não temos consciência clara de quem é Jesus Cristo e de quem realmente somos, nos tornamos dóceis crianças conduzidas por qualquer vã doutrina ou por qualquer um que se apresente diante de nós. Acabamos nos tornando meros frequentadores de atos litúrgicos, de reuniões e mais reuniões infrutíferas, figuras medrosas e acanhadas na vida real. As fórmulas devocionais desse grupo de "verdadeiros guerreiros da fé" são cópias mal-feitas de um neopentecostalismo alienante e completamente avesso dos ensinamentos claros e "incômodos" da doutrina social da Igreja. Recentemente, um site católico de renome, publicou o seu "index" condenando uma série de leigos, religiosos, sacerdotes e bispos, taxando-lhes de "comunistas e propagadores de uma doutrina anticristã". Até que ponto chega o nosso olhar míope da fé! As vendas da hipocrisia e da ignorância nos impedem de ver a verdade e experimentar o "gostinho" inconfundível da fé cristã. Lutar por uma sociedade verdadeiramente justa e igualitária, denunciar os desmandos daqueles que oprimem e massacram os mais pobres, conscientizar a população acerca de seus direitos e deveres, unir fé e vida são obrigações dos que se dizem discípulos e missionários de Cristo. Aonde foram parar as Conferências de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida que tanto enfatizam a opção preferencial pelos pobres? Se isso é coisa de comunista, quero o meu nome incluído nessa relação! A outra vertente de Igreja, presente principalmente nas pequenas comunidades, tenta dar visibilidade aos clamores dos inúmeros excluídos da sociedade. Acusados implacavelmente de envolvimento ideológico com o político e o social ("marxização" da fé cristã), os ditos "comunistas" representam a voz profética do cristianismo há muito esquecida, mas nunca silenciada. A Teologia da Libertação, tão atacada e vilipendiada pelas autocracias eclesiásticas, continua a motivar, embalar as grandes lutas, inspirar os corajosos profetas da contemporaneidade que ainda acreditam em um outro cristianismo. Na maneira simples de celebrar e partir o pão, vemos claramente o espaço fraterno aonde as minorias celebram o grande festim do Reino de Deus, já presente aqui e agora. Duas faces de uma mesma Igreja! Opostas ou unidas na diversidade? Martin Luther King, em um de seus memoráveis discursos, disse certa vez: "Precisamos nos unir como irmãos ou pereceremos como loucos". O caminho que nos é proposto é resgatar o verdadeiro projeto de Jesus Cristo, para que ele não se torne uma figura proeminente do passado sem implicações concretas na vida atual. Qual a imagem de Jesus Cristo que devemos apresentar ao povo cristão em catequese, ensino religioso e homilia? Qual a importância de um determinado referencial cristológico para o (não-) engajamento social e político de cristãos e cristãs?
César Augusto Rocha
Coordenador do Conselho Diocesano de Leigos/as – Diocese de Tianguá/CE

quarta-feira, 25 de maio de 2011

NÃO SEJA JUMENTO


    Já li máximas que me pareceram o máximo. Frases sábias chamadas “pérolas de sabedoria”, ditas por poetas, filósofos, cientistas, místicos... Uma que me vem a mente neste momento foi dita por um anônimo nordestino: “Não seja jumento!”. Muita gente não deu ouvidos a frases como essa, de profunda sabedoria, e não foi capaz de superar o caráter jumentístico da convencionalidade.  Alguns personagens da idade média, à frente de seu tempo, querendo que seus concidadãos fedessem menos, deram a idéia de se banhar uma vez por semana. Julgou-se ser o conselho de um louco exagero. Não lhe parece uma jumentice dizer que é suficiente tomar um banho por ano? E o que você acha de acordar de manhã, abrir a janela, e jogar merda na rua? Um rei, inteligentemente (não poderia ter sido ele ainda mais inteligente?), baixou um decreto: todos os que o fizessem deveriam gritar primeiro “sai de baixo!”. Se é verdadeira a hipótese de que o imperador Nero incendiou dois terços da cidade de Roma para acabar com uma peste, então eu pergunto se em vez de fogo ele não resolveria o problema simplesmente usando água. Mas observando nos supermercados o consumo excessivo de sacolas plásticas, sabendo o mal que elas causam ao meio ambiente, eu também fico impressionado com tamanha jumentice, que, neste último caso, é da atualidade. Alguns dirão que não se deve transportar os sentimentos do presente para o passado. Falemos então do presente. Você não acha uma jumentice usarmos água tratada e clorada para nossas rotineiras e cotidianas descargas sanitárias? Você não acha uma jumentice enviar a merda para o rio, sendo que ela poderia ser útil, benéfica e não prejudicial como tratei no meu artigo de caráter ecológico chamado “apologia da merda”? Por muitos séculos, em vários lugares se jogou na rua; hoje se joga no rio. Continua a jumentice. Ainda uma palavra de três letras: trocou-se rua por rio. E continua o mal cheiro e a proliferação de doenças.  Você não acha uma jumentice organizar a cidade de modo que quem mora no extremo da zona norte, no caminho para o trabalho na zona sul, encontrar alguém que mora na zona sul e está indo trabalhar na zona norte? E como você explica que, na época da velocidade (comparada a velocidade das carruagem do passado) se gaste uma hora inteira para percorrer doze quilômetros da Av. Sapopemba no horário entre 18 e 19 horas? Pois as carruagens ultrapassavam 12 km/h. E o que você acha de se retirar tantas toneladas de petróleo do solo, espalhá-lo no ar e respirar aquilo? Não é uma jumentice? E o que você acha do método pratico de alimentação vegetariana: dar todos os legumes e verduras para o porco e depois comer o porco? O que você acha de a sociedade dispensar-se de uma alimentação saudável e lotar os grandes, complicados e tumultuados hospitais? E, no hospital, pegar infecção hospitalar porque o auxiliar de enfermagem passou um dia inteiro sem lavar as mãos?  O que você acha de os chamados “evangélicos” dizerem que é pecado beber cerveja porque ela contém álcool, mas nunca se perguntarem o que contém um refrigerante como a coca-cola?  Você que tem mais informações do que eu, deve encontrar mais costumes desses que eu chamaria de jumentice. Num programa esotérico de televisão se dizia que “os animais têm alma, pensam e sentem como nós”. Como nós quem ??? Talvez eu esteja sendo indelicado ao chamar gente de jumento. Os jumentos não mudam de comportamento porque não sabem que podem mudar. Nós sabemos. Por que não mudamos?
Geraldo Domezi
Filosofo

domingo, 22 de maio de 2011

LIVRO QUE ENSINA ERRADO???

AMIGOS  :
      Conheçam a verdade sobre   o  “alarme “  contra livro do MEC  .... e vejam como  a mídia pode ser tendenciosa e enredilhar  pessoas menos informadas, deformando opiniões ...
                       Maria de Lourdes

Alguns dias depois do início da polêmica em torno de uma frase retirada da obra “Por uma vida melhor”, cuja responsabilidade pedagógica é da Ação Educativa, o debate ganha argumentos mais qualificados na imprensa. Autores como Marcos Bagno (UnB), Sírio Possenti (Unicamp), Carlos Alberto Faraco (UFPR), Magda Soares Becker (UFMG) e tantos outros vieram a público se posicionar sobre a polêmica, que classificaram como “falsa” e “vazia” (leia abaixo outras manifestações de apoio). Com exceção de alguns que insistem em insinuar que o livro “ensina errado”, parece ter ficado claro à opinião pública que o objetivo da obra é ensinar a norma culta, sim, mas a partir da consideração de variantes populares do idioma que o adulto traz consigo ao chegar à escola. Em outras palavras, o livro mostra a frase “Nós pega” para, em seguida, ensinar a forma “Nós pegamos”. Infelizmente, ao pinçar apenas a primeira parte, a notícia publicada em um blog de política do IG e reproduzida por outros veículos não trazia elementos de contextualização a seus leitores. Lamentamos a postura de alguns parlamentares que se apropriaram da discussão de maneira superficial e usam o episódio para atacar opositores e criar novas falsas polêmicas. Como corretamente publicou a Folha de S. Paulo (18/5), o livro segue as normas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), vigentes desde 1997. Sabemos que o debate público é fundamental para promover a qualidade e equidade na educação, e reafirmamos nossa disposição em participar de toda discussão nesses termos. Leia abaixo as manifestações favoráveis à obra “Por uma Vida Melhor”. “A polêmica não tem qualquer fundamento. Quem a iniciou e quem a está sustentando pelo lado do escândalo, leu o que não está escrito, está atirando a esmo, atingindo alvos errados e revelando sua espantosa ignorância sobre a história e a realidade social e linguística do Brasil. Pior ainda: jornalistas respeitáveis e até mesmo um conhecido gramático manifestam indignação claramente apenas por ouvir dizer e não com base numa análise criteriosa do material. Não podemos senão lamentar essa irresponsável atitude de pessoas que têm a obrigação, ao ocupar o espaço público, de seguir comezinhos princípios éticos”. Leia aqui o artigo completo, na Gazeta do Povo. Carlos Alberto Faraco, linguista, foi professor de Português e reitor da UFPR “Quando fiquei sabendo da questão, disse que não acreditava na matéria do IG, primeira fonte do debate. Depois tive acesso à indigitada página, no mesmo IG, e constatei que todos os que a leram a leram errado. Mas aposto que muitos a comentaram sem ler. (...) O linguista diz que a escola deve ensinar a dizer Os livro? Não. Nenhum linguista propõe isso em lugar nenhum (desafio os que têm opinião contrária a fornecer uma referência). Aliás, isso não foi dito no tal livro, embora todos os comentaristas digam que leram isso” Leia aqui o artigo completo, no Terra Magazine. Sírio Possenti, professor associado do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua, Os limites do discurso, Questões para analistas de discurso e Língua na Mídia. “[A polêmica] não tem fundamento. Ela está estabelecida nas informações do primeiro capítulo do livro, que é sobre a diferença entre escrever e falar. Ele é muito adequado porque diz que a escrita é diferente da fala e que na fala existe muito mais variação do que na escrita. Faz a distinção entre a variedade popular e a variedade culta, e mostra que elas têm sistemas de concordâncias diferentes. (...) Quando os autores explicam que é possível falar “os peixe”, não estão querendo dizer que esse é o certo, nem vão ensinar a pessoa a escrever errado. Isso é como as pessoas já falam. A escola tem é que ensinar a norma culta e o livro faz isso. O objetivo do capítulo é apenas deixar claro que uma coisa é falar e outra é escrever”. Leia aqui o artigo completo no jornal A Notícia (SC). Ana Maria Zilles, pós-doutora em linguística pela New York University, professora da UNISINOS (RS) Kátia Lomba Bräkling, professora de linguística e uma das elaboradoras dos PCNs de língua portuguesa, avalia que o material “está perfeito”. “A gente comete coisas piores ao falar. ‘Comemos’ o ‘r’ final de todos os verbos no infinitivo. Dizemos: ‘falá’, ‘cantá’, ‘brincá’. Mas se eu estiver em um contexto familiar, posso falar do jeito que eu quiser”, defende. Portal IG – “Uso de linguagem popular na sala de aula é orientação do MEC” – Leia a reportagem completa aqui. Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília (UnB) e autor do livro Preconceito Linguístico, considera que faltaram informações à sociedade e aos meios de comunicação para abordar o assunto. "Isso é uma falsa polêmica porque qualquer livro didático que você procure no mercado brasileiro traz um comentário, uma lição sobre a variação linguística. A linguística moderna se dedica ao estudo de qualquer manifestação da língua e não só aquela que um grupo de pessoas considera certa", afirma. Agência Brasil - “Alfabetização de adultos precisa levar em conta "norma popular", defendem especialistas”. Leia a reportagem completa aqui. “A polêmica provocada pela publicação na imprensa de trechos do livro de Heloísa Ramos nasce da defasagem entre a visão do ensino da língua materna cultivada pelo senso comum e uma pedagogia desenvolvida com base na linguística. Na condição de ciência, a linguística tem por objetivo descrever a língua, não prescrever formas de realização. O trabalho do linguista passa ao largo dos frágeis conceitos de "certo" e "errado". É fato, porém, que, para os leigos no assunto, o estudo da língua parece se resumir exatamente a esses conceitos”. Leia aqui o artigo na íntegra.  Thais Nicoletti de Camargo, consultora de língua portuguesa do Grupo Folha-UOL. A reflexão sobre a construção "os livro" não tem nada a ver com preguiça e assassinato, mas com um fenômeno cultural, histórico e social que ocorre com todas as línguas: a existência de construções linguísticas largamente usadas por vários grupos sociais e que funcionam, em certos contextos, para comunicar sem nenhum problema. As acusações feitas pelo colunista Clóvis Rossi aos professores ("preguiçosos" e "assassinos") funda-se em sua própria ignorância das razões históricas e sociais usadas pela ciência da linguística há mais de cem anos Francisco Alves Filho, professor da Universidade Federal do Piauí (Teresina, PI), no painel do leitor da Folha de S. Paulo (18/5) “O artigo de Clóvis Rossi ofende profundamente os linguistas do mundo todo. A linguística moderna substituiu o antigo ensino da gramática normativa, não desprezando a norma culta, mas mostrando que as línguas evoluem e mudam com o tempo e geram diferentes normas ou variantes linguísticas. O que hoje pode soar como vulgar no português pode, no futuro, representar norma culta. A escola deve ter consciência da história da língua e dos valores que atribuímos socialmente às variedades linguísticas”. Luiz Carlos Cagliari, professor de linguística da Unesp (Araraquara, SP) “[Minha posição] não diverge em absolutamente nada em relação ao que diz a "nota pública" divulgada pela Ação Educativa. (...) O capítulo do livro que está sendo censurado trata exatamente da importância da aprendizagem da norma culta! A única coisa que eu poderia dizer a mais é que as pessoas não deveriam tirar conclusões e fazer acusações a partir de uma frase pinçada de um texto que não conhecem e que desmente tudo o que vêm dizendo a respeito do livro em questão”. Magda Becker Soares, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por e-mail à Ação Educativa. O ministro Fernando Haddad (Educação) disse que o governo não recolherá o livro "Por uma Vida Melhor", que causou polêmica por defender um erro de concordância ao tratar da diferença entre língua oral e escrita. "Evidentemente que não [será recolhido]. Já foi esclarecido que as pessoas que acusaram esse livro não o tinham lido. Uma pena que as pessoas se manifestaram ser ter lido", afirmou o ministro.
Ivana Boal Assessoria de Comunicação CENPEC
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária

terça-feira, 17 de maio de 2011

É POSSIVEL MELHORAR O CAPITALISMO?

Na entrevista do teólogo Jon Sobrino, feita por Paulo Escobar e publicada na página da Adital em 30/03/11, destaco o trecho abaixo, com a intenção de polemizar um pouco com você que ora nos visita. Ei-lo:
Escobar: É possível melhorar o capitalismo ou somente uma nova alternativa pode ser mais humana?
Jon Sobrino: Até o dia de hoje parecem-me de plena atualidade as palavras que pronunciou Ellacuría em Barcelona no dia 6 de novembro de 1989, dez dias antes de ser assassinado. O diagnostico era, e é, o seguinte: "A análise cropológica, é dizer, o estudo das fezes da nossa civilização, parece mostrar que esta civilização está gravemente doente e que para evitar um desenlace fatídico e fatal é necessário tentar mudá-la a partir de dentro de si mesma”. E junto com a profecia do diagnostico, os caminhos da utopia. "Só utópica e esperançadamente podemos acreditar e ter ânimo para tentar com todos os pobres e oprimidos do mundo reverter a história, subverte-la e lançá-la em outra direção”. São palavras de um analista, um cristão e um mártir. Repito que não sou experto em análise, e somente me ocorrem duas coisas. Uma, a mais realista, ainda em meio a gente boa e comprometida, é apontar ao "mal menor”. A outra é a obstinação cristã e latino americana de Don Pedro Casaldáliga: apesar de tudo há que manter sempre a esperança. E sempre há signos de que alguma coisa se move em nosso mundo. A eles há que assinalar e não abandoná-los nunca.

E ai? É possivel melhorar o capitalismo?

A integra da entrevista você encontrará acessando o enderêço abaixo.
http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?lang=PT&img=S&cod=55096

sexta-feira, 13 de maio de 2011

SONHOS E OBJETIVOS

Somos o GEFITESP – Grupo Ecumênico Filosófico, teológico Esperança, um grupo ecumênico supra territorial. Não pertencemos a nenhuma paróquia, congregação, setor, região, diocese, bairro, cidade, partido político, embora uma boa parte atue na política de esquerda e nas CEBS da Igreja Católica. Individualmente. Não são todos de uma mesma localidade. Há gente de diversos lugares, mesmo que atualmente a maioria resida na zona leste de São Paulo. Em síntese eis como expressamos nossas inquietudes:
“Queremos construir uma comunidade alternativa e de caráter supra territorial. Desejamos ser um espaço novo mais democrático, menos institucional e menos formal. Visamos aprofundar nossa formação humana e nossa consciência crítica em função do engajamento e do serviço sócio – transformador. Nosso compromisso de fé pede a ampliação dos conhecimentos em filosofia, teologia, política e sociologia. Somos um grupo de pessoas que possuem angústia, inquietações, alegrias, novidades, e fundamentalmente, ideais comuns”.
Já realalizamos 27 encontros fora de São Paulo, sendo que o primeiro foi realizado em fevereiro de 1987. Temas de alguns dos encontros: Jesus Cristo e a Sociedade de seu Tempo, Jesus: Paixão, Morte e Ressurreição, os Diversos Cristianismo do 1° século, O Apóstolo Paulo, História do Cristianismo nos Primeiros Séculos, Introdução á Hermenêutica Bíblica, Origem do Povo de Deus e sua Organização, Teologia do Cotidiano, Estudo do Livro de Jô, Você acredita em milagre? A Natureza Humana, Humanismo e Especismo, Pensamento Mágico e Pensamento Crítico, O Socialismo, Ética e Política, Autonomia e Messianismos, Mídia e Senso Comum, Crise Civilizacional.
Se você tem esse perfil de inquietude para com o planeta partcipe conosco através do nosso enderêço gefitesp@yahoo.com.br
Lembre-se
"GEFITESP SOMOS NÓS"

segunda-feira, 25 de abril de 2011

É PÁSCOA 2011 !

 Na celebração da Páscoa cristã,  a  vivência  da mais perfeita história de AMOR ... A grandeza de um Deus que se entrega até a morte, para vencê-la,  garantindo  o triunfo definitivo da VIDA ... A garantia do reinado da PAZ , da PAZ  profunda e verdadeira, que vence as barreiras e as adversidades , que se impõe com a força da VIDA  em plenitude... Ah ,  se a mensagem da Páscoa fosse conhecida e praticada !  Então sim,  se poderia  acreditar  menos na doçura do chocolate e mais e verdadeiramente, na Justiça,  na fraternidade, num mundo mais bonito, mais humano;  menos nas  filas de compras, laços e presentes, comerciais e apelos de consumo ... Então o convívio entre os povos teria sabor mais doce que o do chocolate... E os ovos deixariam de ser apenas símbolos de vida , de fecundidade , para  serem a própria celebração dessa realidade... E os povos e as nações se entrelaçariam , num ágape sem exclusão, sem ódios, sem  oprimidos,  sem fome,  sem preconceitos, sem medos , sem guerras ... Que seus dias sejam todos, uma sempre nova  experiência de PÁSCOA,  na certeza da vitória do BEM, da  VIDA,  do AMOR ,  na sua existência, no seu sorriso, na sua rotina, no seu testemunho de força e sabedoria, na  Paz do seu semblante e do seu coração  ! Que você seja uma pedra preciosa na construção desse mundo com que sonhamos ,  mesmo que possa parecer utopia  .  Seja  a utopia do AMOR  PASCAL  ,   sempre, a toda prova !
           Com muito carinho  ,  na PÁSCOA 2011  !
                   Maria de Lourdes

segunda-feira, 4 de abril de 2011

POR UM BRASIL ECOLÓGICO, LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS

Uma nova pesquisa realizada na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) revela mais um aberrante efeito do uso generalizado de agrotóxicos sobre a população das regiões de grande produção agrícola. Em Lucas do Rio Verde, município situado a 350 km de Cuiabá, foram coletadas amostras de leite de 62 mulheres atendidas pelo programa de saúde da família. A coleta foi feita entre a 3ª e a 8ª semana após o parto. Em 100% das amostras foi encontrado ao menos um tipo de agrotóxico. Em 85% dos casos foram encontrados entre 2 e 6 tipos. Entre as variáveis estudadas, ter tido aborto foi uma variável que se manteve associada à presença de três agrotóxicos. A substância com maior incidência é conhecida como DDE, um derivado de outro agrotóxico, o DDT, proibido pelo Governo Federal em 1998 por provocar infertilidade no homem e abortos espontâneos nas mulheres. O trabalho de pesquisa foi realizado pela mestranda em Saúde Coletiva da UFMT Danielly Palma, sob orientação do Prof. Wandeley Pignati. < br />Lucas do Rio Verde está entre os maiores produtores de grãos do Mato Grosso e entre os maiores produtores nacionais de milho “safrinha”, figurando como um dos principais pólos do agronegócio do estado e do país. Os defensores do modelo agroquímico que impera na região consideram o município como modelo de desenvolvimento. Mas a imagem da cidade começou a ser manchada quando, em março de 2006, a cidade foi banhada pelo herbicida Paraquate, usado na plantação de soja. O veneno, despejado de um avião agrícola, destruiu plantações, hortas e jardins. Atingiu também cursos d’água, casas e pessoas, provocando problemas de saúde e colocando em risco toda a população local. Este caso específico acabou ganhando divulgação nacional graças ao trabalho de um repórter da Radiobrás (seu trabalho originou o livro: MACHADO, P. Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa na cidade – história da reportagem. Brasília: Anvisa, 2008. 264 p.). Mas infelizmente, não se tratou de um caso isolado: ao contrário, ano após anos, “acidentes” como esse se repetem nas muitas cidades onde o agronegócio prospera. Depois deste caso, uma pesquisa feita em parceria pela a Fundação Oswaldo Cruz e a UFMT encontrou resíduos de agrotóxicos no sangue e na urina de moradores, em poços artesianos e amostras de ar e de água da chuva coletadas em escolas públicas dos municípios de Lucas do Rio Verde e Campo Verde (dois dos principais produtores de grãos do estado). O monitoramento da água de poços revelou que 32% continham resíduos de agrotóxicos. Das amostras de água da chuva analisadas, mais de 40% estavam contaminadas com venenos. Boa parte desta contaminação é proveniente da pulverização aérea de venenos que é praticada na região. Vários estudos demonstram que, na prática, apenas uma parte dos agrotóxicos aplicados sobre lavouras se deposita sobre as plantas. O resto escorre para o solo ou segue pelos ares para contaminar outras áreas. Segundo diversas pesquisas realizadas pela Embrapa Meio Ambiente, em média apenas metade do que é pulverizado atinge o alvo. A parte que se perde no solo ou é carregada pelo vento pode comumente ultrapassar 70% do produto aplicado. Mas um dos aspectos mais lamentáveis de todo este drama é que, ao prestar este valioso serviço à sociedade, estudando e comprovando os efeitos danosos dos venenos agrícolas sobre as pessoas e o meio ambiente, os pesquisadores têm se tornado vítimas de ataques pessoais. Via de regra, quando são divulgados resultados de pesquisas como estes, demonstrando a contaminação da água, do sangue ou do leite materno, os defensores do modelo agroquímico de produção partem para o ataque à reputação dos cientistas e, comumente, lançam dúvidas levianas sobre os métodos e a qualidade das pesquisas. Mas, claro, nunca propõem contraprovas ou a repetição dos testes. Um exemplo tocante deste fenômeno está publicado na seção de comentários do site 24 Horas News, um dos veículos que divulgou a notícia da contaminação do leite materno em Mato Grosso. Diz o internauta Josué: “Já estou providenciando a foto dessa “pesquisadora” da UFMT e vou espalhar aqui pelo Nortão todo, nos postes, com a frase: PROCURA-SE –> RECOMPENSA DE R$ 10 MIL. Depois vamos dar uma coça nela com pé de soja seco, que ela nunca mais vai pesquisar nada aqui” (18/03/2011 13:13:00). Em agosto de 2010 o professor da Universidade de Buenos Aires Andrés Carrasco foi agredido ao visitar região produtora de soja no país onde participaria de evento para apresentar os dados de sua pesquisa que mostraram os danos causados pelo herbicida glifosato. O estudo foi publicado na Chemical Research in toxicology. É por essas e muitas outras que poucas pesquisas têm sido realizadas sobre este tema. Este é apenas um exemplo grosseiro das pressões que pesquisadores sofrem — em muitos casos dentro de suas próprias instituições. É preciso muita coragem para cutucar o agronegócio com vara curta. O que estas pesquisas estão mostrando é apenas a ponta do iceberg. Procurando, muito mais evidências dos efeitos nefastos do uso maciço de venenos agrícolas serão achadas. Com informações de:
Jornal da Band, 21/03/2011.
O Globo, 23/03/2011.24
Horas News, 17/03/2011.
Universidade Federal do Mato Grosso, 15/03/2011.

sexta-feira, 18 de março de 2011

MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE

É de conhecimento geral a dificuldade que os portadores de necessidades especiais, tais como deficientes físicos, idosos, cadeirantes, encontram para deslocar-se de um ponto a outro de nossa cidade. São veículos coletivos mal adaptados, edifícios sem acessos adequados, calçadas em péssimas condições de conservação ou mesmo com obstáculos propositalmente colocados. Os representantes do povo, por nós eleitos,certamente não fazem parte desse grupo sofrido e silencioso. Pois nada fazem para melhorar essa situação. Precisamos ser voz e dar vez a essas pessoas. Em função disso, convidamos a todos para uma coleta de assinaturas que terá o objetivo de dar visibilidade a esta causa, a qual consideramos muito justa.

Sábado - dia 19-03-2011 - das 09:00 às 12:00 hs no PARQUE DO PIQUERI
Situado na Rua Tuiuti, 515, no Tatuapé - Zona Leste de São Paulo.
 
Estaremos lutando por mais respeito, e infra-estrutura digna para essas pessoas.

Mesmo que você não faça parte deste grupo, deve conhecer alguém, ter um parente, um amigo nessa situação e deve compreender bem o que estamos falando. Por solidariedade e pelo direito à cidadania, venha participar! Sua assinatura poderá fazer a diferença na vida dessas pessoas!
 
Contamos com você! Divulgue e compareça.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Mãe Terra, o que deixaremos para seus filhos? - Trailer do vídeo da Camp...

INCLUSÃO DE QUEM?


Em um parque da cidade de São Paulo, uma família comemora, junto com amigos, o aniversário de um dos seus mais queridos membros. À medida que o tempo passa novos convidados juntam-se ao grupo, tornando a festa ainda mais prazerosa. Uma das famílias convidadas chega finalmente à festa. Não sem dificuldades, não sem atropelos, não sem barreiras. E por quê? Na medida em que os integrantes da família se aproximam do local é possível entender o porquê: um dos seus membros é uma pessoa com necessidade especial, no caso, cadeirante. Após ter que superar os inúmeros obstáculos para chegar até o ponto de encontro marcado dentro do parque para a festa, tudo se torna alegria e prazer. Comida, bebida, amigos por toda volta, brincadeiras, conversas, fotografias, ajudaram a mascarar o martírio que foi para até lá chegar.  Mas, ficou uma marca. Ficou uma lembrança que se tornará freqüente nos muitos dias que se seguirão ao dia da festa do amigo. Ficou o preconceito, ficou a segregação, ficou a exclusão, como feridas profundas cujas cicatrizes são difíceis de sair. Muito se tem falado e escrito a respeito da chamada “inclusão social”, e até mesmo leis, normas e políticas têm sido criadas, visando proteger, amparar, enfim, visando incluir os portadores de algum tipo de necessidade especial à vida normal em uma grande cidade como São Paulo. Temas como “inclusão social”, inclusão digital ou infoinclusão, inclusão produtiva, etc., tornaram-se objeto de estudo, discussões, discursos falácias e plataformas eleitoreiras. A infraestrutura de nossa querida cidade no que tange a equipamentos e quesitos para acolher esses cidadãos é por vezes vergonhosa, para não dizer outra coisa. A lista é interminável que nem cabe aqui enumerá-las. Por conta desse descaso aquele que poderia ser o prenúncio de um dia agradável acabou sendo frustrante e carregado de dificuldades e constrangimentos traumáticos. O local público era um dos parques municipais de nossa cidade, o do Piqueri, no bairro do Tatuapé. Refúgio de muitos cidadãos que buscam momentos de lazer, repouso, descanso, descontração, junto com a família e amigos. A maioria das pessoas, se consultada, certamente deverão ter a mesma impressão do local, ou seja, mau ou pessimamente arquitetado, principalmente, para acolher seres humanos com necessidades especiais, o que é deveras lamentável. Basta uma ida ao local para constatar o que ora denunciamos. Ousamos até arriscar em dizer que sequer vós gestores de plantão conhecem o itinerário para se chegar àquele local. Mas, se eventualmente lá forem os desafiamos a nos convidar para juntos constatar essa vergonhosa falha, e se tiverem coragem nos avise que iremos juntos. Queremos crer que esse grito que ora lançamos não seja simplesmente mais um que se somaram aos tantos que certamente já foram dados, mas uma alavanca que impulsione definitivamente às autoridades públicas de nosso país e porque não do mundo sobre esse escândalo que clama aos céus e que ofende a Deus.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS

Plínio Delphino, Diário de São Paulo.
O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou um mês como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:' Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o pesquisador. O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz. No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse: 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar. O que você sentiu na pele, trabalhando como gari? Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado. E depois de um mês trabalhando como gari? Isso mudou? Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão. E quando você volta para casa, para seu mundo real? Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.
“Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida”!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

SENTINDO NA PELE

Neste último final de semana partilhei junto com algumas pessoas que Deus me presenteou, momentos de grande alegria. Curtimos o domingo junto à natureza em um parque público, localizado em uma area privilegiada no bairro do Tatuapé, capital de São Paulo, denominado "Parque do Piqueri". Tinha tudo para ser perfeito, não fosse o descaso daqueles que tem a missão de cuidar da coisa pública, no caso a prefeitura. Não há naquele local o minimo básico com relação a infra-estrutura necessária para receber portadores de deficiência, especificamente de cadeirantes. Não fosse o ambiente acolhedor, não fosse a fantástica família da pessoa portadora de deficiência, que com muita garra e alegria procurou não esmorecer diante dos inúmeros obstáculos, e não fosse a força de superação da minha grande amiga Marcia, tudo teria ido para o ralo. Diante disso, o minimo que devemos fazer é unir forças para exigir daqueles que tem e recebem por missão a tarefa de devolver em forma de serviço e equipamentos os enormes tributos que pagamos. Se esse tema lhe inquieta o que você gostaria de partilhar?

A integra desse grito pode ser encontrada no enderêço: http://marciapitelli.blogspot.com/

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A VERDADE

Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho, deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu o seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margarida. O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:
- Agora me lembro, não era um homem, eram dois.
E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem, e o encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela disse:
- Então está com o terceiro!
Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram, e encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela.
- Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo, e a deixou desfalecida - gritaram os aldeões. - Matem-no!
- Esperem! - gritou o homem, no momento em que passavam a corda da forca pelo seu pescoço. - Eu não roubei o anel. Foi ela quem me deu!
E apontou para a donzela, diante do escândalo de todos.
O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se aproximou dele e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo "Já que meus encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor". E ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra.
Todos se viraram contra a donzela e gritaram: "Rameira! Impura! Diaba!" e exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o seu pescoço.
Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:
- A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade?
O pescador deu de ombros e disse:
- A verdade é que eu achei o anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador.

Luiz Fernando Verissimo