OBRIGADO PELA VISITA

OS RUINS NÃO SÃO BONS PORQUE OS BONS NÃO SÃO MELHORES

quarta-feira, 17 de março de 2010

SOLIDARIEDADE ECONOMICA

“Daí-lhes vós mesmos de comer”
Mateus 14, 13-21
Uma das experiências que me marcou muito vem do tempo em que colaborávamos com a preparação da catequese infantil para o Sacramento da Eucaristia. Na tentativa de transmitir o sentido da partilha que Cristo nos deixou, conforme o descrito em Mts. 14,13-21, e após uma preleção, levamos as crianças para um recinto onde havia uma mesa central contendo bombons, na quantidade exata de um para cada um. Após uma oração com todos, deixamos o local e ficamos assistindo de fora (sem que eles nos vissem) qual seria o comportamento da cada um. Teve um pouco de tudo. Teve aquele(s) que pegou mais que um e comeu sem querer saber do próximo. Teve aquele que não comeu porque não foi ágil para pegar. Teve aquele que pegou e guardou. O que nos chamou atenção foi o comportamento de alguns que pegaram o seu, olharam ao redor, perceberam quem nada tinha e realizaram o milagre da partilha colocando o que tinha em comum. Foi em cima desses gestos que conseguimos transmitir na prática do cotidiano o sentido da comum-união, a comunhão inaugurada por Cristo. Um dos pontos centrais da campanha da fraternidade deste ano, com o tema Economia e Vida, aborda a questão que no meu ver é a chave do segredo do amor cristão: a solidariedade. Há um refrão de um canto que por muito tempo animou as comunidades que dizia que “bastariam dois pães e dois peixes e o milagre do amor pra acabar com tanta fome, pra acabar com tanta dor.” O milagre da eucaristia não é o do imunizar os comungados, mas torná-los co-responsáveis para com seu próximo. Os atuais cadernos de economia dos jornais de todo mundo apresentam os maiores milionários do planeta. Dentre os primeiros figura o empresário Eike Batista, conforme o caderno Dinheiro da Folha de São Paulo de 11/03/10, do Grupo EBX, que teve um aumento de US$ 19,5 bilhões no seu patrimônio e se tornou o oitavo homem mais rico do mundo, com US$ 27 bilhões (metade do PIB equatoriano), segundo a revista "Forbes", a primeira vez nos últimos anos em que um brasileiro aparece entre os 50 mais ricos. A notícia dá conta que em 2009, ele apareceu na 61ª posição. No outro extremo, em contraste absurdo o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, apontou que em 2007 existiam no Brasil 10,7 milhões de indigentes e 46,3 milhões de pobres no nosso pais. A lógica do sistema capitalista que vivemos contraste escandalosamente com a lógica de Cristo. Para Cristo o centro das relações humanas esta na solidariedade, na partilha, no colocar em comum. Esta campanha da fraternidade procura reforçar e nos convidar a busca de soluções alternativas a essa cultura do acumulo e exclusão em que vivemos. “E todos repartiam o pão e não havia necessitados entre eles” (At.4,35). Não se trata de querer fomentar um embate social contra e nem a favor de ninguém, mas sim alertar sobre a direção e o caráter que damos em nossas relações interpessoais. O texto base aponta para experiências motivadoras com o nome de “economia solidária”, que longe do que muitos pensam, não é um simples gesto de ”troca de moeda”, mas de viver de outra maneira, de forma solidária, principalmente, com os “não contados e excluídos”. Um dos vários exemplos positivos que se tem conta data de 1995, na Argentina, chamado de Clube de Trocas da Argentina, onde pouco mais de duas dezenas de pessoas o formavam. No período de 1995 e fins de 2001, foi essa atividade que permitiu dar de comer, vestir, promover saúde, turismo e bem estar a milhares de famílias pauperizadas pela crise que abatia o pais visinho, segundo a bióloga Heloisa Primavera, Segundo ela graças a essa iniciativa popular é que “foi possível trocar de vida com economias solidárias, em particular com essa forma particular de articulações de grandes grupos que usavam uma moeda social para combater a exclusão na qual haviam sido lançados pela economia formal”. O desafio está lançado para todos, e especialmente, para os batizados: o programa de Economia Solidária não é um faz de conta paliativo e transitório, mas um modelo de desenvolvimento alternativo ao capitalismo neoliberal impregnado na nossa cultura.
RENÊ ROLDAN

EM TEMPO:Para quem tiver interesse em aprofundar o assunto, vale à pena acessar o endereço abaixo e conhecer um pouco mais dessa significativa experiência de economia solidária. http://redlases.files.wordpress.com/2008/02/pt2007_trocardevida_con_ecosol_hp.pdf