OBRIGADO PELA VISITA
OS RUINS NÃO SÃO BONS PORQUE OS BONS NÃO SÃO MELHORES
sábado, 18 de junho de 2011
quarta-feira, 15 de junho de 2011
SINTOMAS DE UMA MORAL CORROMPIDA
Desde a metade do segundo milênio - a humanidade - fortemente alavancada pela descoberta da tecnologia, vem vivendo ao que se chama de era da prestação de serviço. Os instrumentais criados oferecem aos incluídos no mercado rapidez e conforto bem acima do necessário. No bojo do desenvolvimento o processo chamado de terceirização ganha cada vez mais corpo. Servir para ganhar vai colocando cada vez mais em perigo valores morais alicerçados no amor ao próximo, na solidariedade, na colaboração, na caridade, na gratuidade. Terceirizam-se praticamente tudo, até afeto e fé. Interesses egóicos, rasteiros, mediatos e passageiros colocam a convivência humana num território movediço com resultados imprevisíveis. Como diz Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa em Grande sertão – Veredas, viver é perigoso. Gestos e atitudes construídos ao longo da história vão sendo transformados em moeda de troca e perdendo valor a cada dia. Termos antes restritos à esfera do mundo dos negócios estão sendo vulgarmente usados a partir da educação familiar, passando pela religiosa, moldurando discursos melosos e vazios, recheados com palavras de dúbio sentido. Liberdade, libertação, democracia, livre arbítrio, fé, ou frases como meu querido, meu amor, meu bem, dentre outras, ganharam tons mercadológicos, quer em nível dos negócios, de prestigio, religioso ou de opinião pública. Erich Fromm afirma em “Análise do Homem” que somos um rebanho que acredita que o caminho que estamos seguindo deve ir dar em algum lugar já que todos o seguem. Para ele senso comum deveria na verdade chamar-se de insensatez comum, face os enormes estragos que provocam na cultura. Essa postura mecanicista desprovida de compromisso e carregada de interesses contribui para que o sonho de um mundo justo, igualitário e fraterno transforme-se em utopia. O favor, a solidariedade, a ajuda, a compaixão ao invés de contribuírem para que a convivência do homem/mulher seja cada vez mais fraterna, servem para aumentar a distância entre os ricos e a legião de miseráveis de que tudo necessitam. “O que ganho com isso” ou “quanto lhe devo” retrata bem essa doença de uma sociedade extremamente individualista, que vai aos trancos e barrancos incorporando hábitos que destroem valores construídos ao longo da história da humanidade. E o que se tem visto e feito para inverter essa lógica esta longe da solução. Ao invés de condutas éticas o que se vê são “esquemas” que revelam o rosto do “jeitinho” brasileiro de resolver as coisas. Difícil não encontrar setor que não existe a prática de um “esquema”. Para provocar um debate pergunto: você dá ou pede “caixinha”? Por quê?
terça-feira, 14 de junho de 2011
A MENTIRA NA HISTÓRIA
Estou a imaginar uma situação em que alguém fosse roubado ou assaltado e agredido. Teria, no entanto, a ajuda solidária dos amigos. Denunciaria o agressor à justiça. E todos os que o ouvissem bem o compreenderiam. Agora imagino que esse alguém fosse roubado e depois acusado de ser o autor do roubo, punido, preso como criminoso sendo ele, na verdade, a vítima. Ou imagino uma situação em que ele pacificamente salvasse alguém de ser assassinado e por isso fosse punido como assassino. Seria a lei aplicada às avessas, o absurdo. Seria a inversão da lógica, a reviravolta dos valores. Ou seria a aplicação de uma injusta lei, avessa à verdade e a justiça. Poderíamos encher muitas páginas com centenas de exemplos, todas com certa semelhança. Vamos lembrar apenas alguns. O primeiro que nos vem à mente encontramo-lo na Bíblia, no livro “Atos dos Apóstolos”. O texto é de caráter, sobretudo, teológico, mas nos revela ilustrativos fatos históricos. Diz em seu capítulo 12, versos 1 a 3, que “O rei Herodes começou a maltratar alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago. Vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender também a Pedro”. E aí pensamos: Por que a tirania do rei agradava ao povo? Certamente houve um trabalho de difamação, de calúnias, com o espalhar de preconceitos facilmente assumidos por muitas pessoas pouco dadas à reflexão e à análise apurada dos fatos. É disso que se alimenta o populismo. Os primeiros cristãos foram muitas vezes vítimas desse tipo de absurdo. Documentos históricos falam de ocasiões em que a população, prejudicada por decisões erradas de governantes, foi levada a acreditar que a causa do problema era o fato de os cristãos terem ofendido os deuses. E é bem conhecido o episódio em que o imperador Nero manda incendiar a cidade de Roma e faz a culpa recair sobre os cristãos. Também a história da implantação do socialismo, inclusive o de caráter marxista-leninista, é povoada de mártires que passaram por semelhantes situações. O romance do realismo socialista de Máximo Gorki, intitulado “A Mãe” traz, em seu capítulo XV, representando diversos heróis e talvez o próprio autor, um personagem que é terrivelmente torturado diante do público a quem começou a pregar idéias revolucionárias. Conta o livro que pessoas dadas ao vinho comentavam o episódio à sua maneira, dizendo se tratar de um chefe de quadrilha terrorista que fazia muitas crueldades, entre elas a de roubar igrejas e ensinar a não acreditar em Deus.Livros sobre a história do Brasil, por exemplo, sobre a história do Quilombo dos Palmares também nos dão conta desse tipo de absurdos. “Palmares e o mundo do açúcar contrastavam-se sendo dois embriões de nações vizinhas e inimigas. Nos engenhos, com a servidão ao mercado externo, o cultivo da cana ocupava todas as terras e todos os braços e, por isso, até os proprietários se alimentavam mal. Os habitantes de Palmares plantavam de tudo; apareciam aos olhos dos inimigos como sendo mais fortes e contentes. Por volta do ano 1693, com a queda do preço do açúcar e a seca, em meio à escassez de alimentos, brancos magros e doentes viam negros quilombolas saudáveis e robustos.” A inveja era bem aproveitada. Homens a serviço do governo e dos senhores de engenho” faziam a população acreditar que a causa de seus males era o crescimento da pátria dos negros palmarinos.” Esvaziavam-se os presídios para que os presos, movidos pela promessa de recompensa, fossem atacar Palmares. Os próprios comandantes eram exímios criminosos. Fernão Carrilho foi solto da prisão para comandar expedições contra o quilombo e, em 1677, voltando de um combate em que conseguiu matar muitos negros, houve missa comemorativa na igreja de Porto Calvo. Domingos Jorge Velho, na lista de suas exigências para destruir Palmares, incluía a anistia para todos os seus crimes. É necessário um pouco de pesquisa e exercício de reflexão para se entender quais os bandidos que passaram para a história como heróis tornando-se nomes de ruas, praças e escolas e quais os heróis que foram pintados como bandidos. Podemos lembrar ainda que, quando Canudos foi destruída e todos os seus habitantes barbaramente assassinados, houve festa em Fortaleza com muita gente comemorando a vitória da República contra o que falsamente chamavam de “reduto monarquista”. Bem dizia o poeta Affonso de Santana em sua “Implosão da Mentira”:
“Mentiram-me. Mentiram-me ontem
E hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
Que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impunemente.
Não mentem tristes
Alegremente mentem.
Mentem tão nacionalmente
Que acham que mentindo história afora
Vão enganar a morte eternamente
Mentem no passado.
No presente passam a mentira a limpo
E no futuro mentem novamente”.
Dizem que Adolf Hitler utilizou o método de repetir muitas vezes a mentira para transformá-la em verdade. No Brasil, nas últimas décadas, se tem utilizado largamente a grande imprensa para a massificação de mentiras. Muito sofreram os militantes do Partido dos Trabalhadores, sobretudo na década de 1980, por causa de mentiras difundidas pela televisão, rádios e jornais. No início dessa década, ao manifestarmos apoio ou simpatia a esse partido éramos identificados como terroristas e não raro agredidos, por vezes até fisicamente. Muito sofreram lideranças sindicais, sobretudo em períodos de greve por causa de mentiras ou omissão de verdades nos meios de comunicação de massa. Muito tem sofrido os que trabalham com o que se chama “direitos humanos” por terem sido identificados como “defensores do crime”, como “promotores da impunidade” e outras mentiras. Conta alguém que foi o próprio secretário da Justiça na gestão do governador Montoro, José Carlos Dias que, em certa ocasião, ao pedir a um soldado que parasse de bater num jovem infrator, por pouco não foi linchado. Foi o mesmo que tentou instituir nos presídios a “visita íntima” com o intuito de diminuir a desumanização e a promiscuidade nesses locais e sofreu a oposição de jornalistas policiais que tinham muito espaço no rádio para dizer mentiras. Por uma infinidade de exemplos podemos ver que, a respeito dos melhores amigos da libertadora verdade se falou muitas mentiras. A mentira continua rondando descaradamente por aí, confiando muito na miséria, na falta de estudo da população, na demagogia de comunicadores de televisão, que se fartam de receber aplausos. E o atual poder Legislativo vem demonstrando que não é tão inimigo da mentira ou muito amigo da verdade. Prefere ser amigo do pai da mentira, o dinheiro, que é a fonte de todos os males.
Geraldo Domezi
Nobel em Inquietude
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